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meu coração na bandeja

Sobre

sempre fui algumas coisas e algumas outras fui me tornando no caminho. sempre fui muito observadora e atenta, sempre fui corajosa, sempre fui conversadeira. quando criança minha brincadeira preferida era prestar atenção na conversa dos adultos. gente sempre foi meu bicho preferido. depois, passei a gostar também das relações entre gentes, meu segundo bicho preferido.

 

sempre fui filha do milagre, desejada e celebrada no colo de uma mãe berço de amor e presença, com ensinamentos budistas no café da manhã e uma intimidade ancestral com a vida e a morte. sempre fui a única filha mulher de um pai presente e provedor de recursos e estrutra emocional, empenhado politicamente na construção de um mundo mais justo. sempre fui filha do encontro entre dois mundos aparentemente opostos, unidos pela música e pelo amor, e destes dois ingredientes poderosos, nascemos eu e meu irmão. sempre estive a serviço da integração entre masculino e feminino, entre mundo sutil e material, sempre fui fazedora de pontes.

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sou devota das minhas relações, todas elas. meus filhos são minha maior escola, a eles faço reverência todos os dias e sem eles eu iria vagar sem norte e sem porto de chegada. meu marido, meus pais, meus irmãos, todas as mulheres cuidadoras de minha vida até aqui, minhas amigas, meus amigos, meu ex marido, todos os meus ex companheiros, todas as redes e comunidades às quais já fiz parte e ainda faço, todos os trabalhos e irmãos e irmãs de caminhada que fiz na jornada até aqui, eles me constituem, a eles devo o pouco que sou e sei nesta vida.

 

aprendi que construir memórias significativas é intencionar que um momento importante de nossas vidas não passe igual aos outros. é desejar fazer daquilo algo que vire memória com significado (um casamento, um parto, uma separação, um luto, o fechamento de uma empresa, o nascimento de outra, a chegada a um novo emprego, a demissão tão sonhada). qualquer momento é digno de presença e honra. aprendi que cerimônias podem ser de diversos tipos, solitárias, conjugais, familiares, coletivas, empresariais. aprendi que estamos sempre fechando e abrindo novos ciclos e que agradecer, celebrar e intencionar eles, faz toda diferença.

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desde muito pequena nunca me interessei por conversas de elevador, nunca gostei de papo de bar, nunca estive em casamentos normais e evito eventos sociais comuns, considero que a humanidade necessita de rituais e nós necessitamos de pessoas ao nosso lado, mas considero que nossa cultura esvaziou todos eles e a maior parte de nós volta vazio pra casa. gosto de dizer que só frequento eventos, redes e pessoas nutritivas e isso tem a ver com o campo energéticos de confiança em que os encontros acontecem, não com quem são as pessoas envolvidas ou o preço do ingresso.

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há muitos anos me dedico a anfitriar as conversas que me interessam. elas falam muito sobre as nossas vísceras e muito pouco sobre a notícia do dia. elas sustentam sonhos e encaram abismos, muito mais do que dão conselhos e sustentam narrativas de sucesso. acredito que o sucesso é estarmos vivos, saudáveis e fortes, bem acompanhados e fincados com dois pés no dia de hoje. o mais livre possível que der para hoje. não sustento idealizações, acho que elas adoecem muitas mulheres. gosto de abrir espaços para que falemos do que não deveríamos falar.

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sou facilitadora de conversas significativas com formação e tudo, mas já era muito antes disso.

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sou mediadora de conflitos com anos de investigação em não violência, mas também já era muito antes disso.

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me formei em letras porque adorava o poder das histórias. atuei profissionalmente muito tempo com arte e cultura, achava que emocionar as pessoas tinha o potencial de construir um mundo melhor. depois me dediquei aos negócios de impacto sociais e ambientais (nome completo) porque me encantei pelas histórias que eles tinham pra contar de que eles também podiam construir um mundo mais justo. hoje sei que é o amor que faz do mundo um lugar mais bonito, e por isso, me dedico a ele.​

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[se você quiser ler em mais detalhes, conto quase tudo o que sei aqui embaixo]

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infância

Nasci e cresci em Fortaleza, no Ceará, filha de mãe hippie e pai comunista, com uma forte relação afetiva com o mar e com o profundo sertão cearense, pra onde eu fui em todos os finais de semana, feriados e férias escolares, sem luz elétrica e sem água encanada, até meus 15 anos.

Sou a única filha mulher em meio a 4 irmãos homens.

Estudei a vida toda numa escola sem provas e sem uniforme, focada em formar cidadãos atuantes em prol da VIDA próspera na Terra [Escola Vila, em Fortaleza, Ceará, Brasil].​

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[crédito da foto: Flávio Torres, meu pai. Nela, eu e meu irmão, Ricardo]

juventude

Morei na Itália dos 15 aos 19 anos, acompanhando minha mãe num doutorado, larguei um pedaço do meu coração por lá, qualquer dia ainda vou buscar.

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Com vinte e um anos, fui embora de Fortaleza para o Rio de Janeiro, por amor e sede de mudança. Fiz faculdade de Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro, com ela aprendi a estudar qualquer coisa que me interessasse e aprendi a sustentar beleza e encantamento com tudo o que for humano.

Fiz mestrado em Literatura italiana na mesma universidade, com uma dissertação sobre Beppe Fenoglio e a literatura da Resistência italiana durante a Segunda Guerra, orientada pelo professor Marco Lucchesi.

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Sempre pensei que seguiria carreira universitária, mas fui reprovada na seleção do doutorado. Foi injusto, ilegal e desleal, foi por vingança, recalque e mesquinhez, coisas que infelizmente a Universidade conhece bem, mas eu recebi como um recado da vida, considerei livramento e me despedi, encerrando minha curta e promissora carreira universitária. Essa era a única carreira que eu conhecia, fiquei sem planos para minha vida profissional e nunca mais construí um, para minha imensa sorte.

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vida - morte - vida

Vivi um luto avassalador aos 23 anos, com ele, aprendi a manusear a morte entre as mãos e no coração. Aprendi a separar joio e trigo. Aprendi essência e desimportância. Lembrei de lembrar um paradigma de sucesso que alinhava as experiências de minha infância no sertão, as lições de uma mãe budista e meu coração agora desperto. 

 

Aos 30 anos recebi o maior presente desta vida, minha filha Clara. Com ela e por causa dela, tudo mudou e segue mudando. Reaprendi a alegria, me lembrei do silêncio criador da vida, aprendi a manusear a VIDA entre as mãos e no coração, aprendi um estado solene de presença amorosa e bondade. 

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Depois da maternidade, a crise profissional virou minha companheira, como conciliar maternidade e o mundo do trabalho? Mesmo com tantos privilégios, eu sempre trabalhei para pagar meus boletos. Por isso, e por conta de cada nova crise, eu fui atualizando meu trabalho junto com meu coração. 

 

Como mãe de bebê pequeno, eu precisava sair de casa para ser muito efetiva no uso do meu tempo e precisava garantir que meu serviço fosse de fato melhorar algo no mundo, nas causas que tocavam meu coração. Deixar minha filha por pouco tempo para isso, podia até ser. Para menos do que isso, me parecia insuportável.

 

Em 2014 empreendi um negócio de impacto de sligns para bebês e fiz formação com Heloísa Lessa, durante 9 meses, para ser doula  (ainda atuo voluntariamente); Em 2015 me separei e fiz formação presencial em Sustentabilidade no Gaia Education Rio de Janeiro; Nos anos de 2016 e 2017 vivi profundamente as desconstruções das outras economias, principalmente as da desescolarização e da Comunicação não violenta. Também me envolvi em muitas iniciativas colaborativas no Rio de Janeiro pré Olímpico. Em 2016 fui trabalhar no Sistema B, apoiando empresas que promovessem impactos socioambientais positivos no mundo, lá eu fiz uma escola de liderança e uma formação em futuro dos negócios, saí de lá pronta para usar a minha voz a serviço das grandes transformações que precisamos promover no mundo.

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[créditos da foto: Pietro Baroni]

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a maternidade como norte

Com tudo isso no currículo e no coração, aos 35 anos, o sucesso me soava falido, masculino, elitista, branco, hétero, e por tudo isso, insustentável. Eu viajei demais e sempre que voltava pra casa minha filha adoecia, o recado era nítido, mas abandonar o sucesso, por mais insustentável que fosse, era dolorido.

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Fiz as malas, agarrei a filha e fui de férias pra casa da minha mãe, na beira da praia no Ceará, encarar a crise de frente. Chorei três semanas sem dormir e pedi que a vida me mostrasse o caminho: ela mandou um trabalho para construir política pública sobre parto humanizado, com o maior salário da minha vida: era uma resposta. Decidi largar 15 anos de vida e trabalho no Rio de Janeiro e mais uma vez mergulhar em busca de uma maternidade mais sustentável, de volta pra casa, no Ceará. 

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Voltar pra casa era escolher um ritmo de vida mais lento, parar antes de pifar, fazer menos para viver mais, correr menos para sentir mais, redefinir o conceito de sucesso de fato em minha vida, alinhar mais uma vez minha maternidade aos meus valores e a minha segunda-feira de manhã. Mas era também desistir de muita coisa que eu amava, principalmente os parceiros de trabalho,  e, o mais difícil, eu saí de cima de um palco - literalmente - , para ser invisível e desconhecida, em silêncio, por muitos anos.

 

Foram sete anos em Fortaleza, ao longo deles eu pude cuidar de muitos aspectos da minha relação com meus pais, me casei com o amor da minha vida e tive meu segundo filho Tom, que nasceu em nossa casa de parto natural. Passei a ter uma vida afetiva online, melhores amigas longe, colegas de fora, conheci processos colaborativos entre mulheres online, voltei a cantar e a escrever, fiz amizade comigo e com o silêncio. Apresentei programa de TV e criei meu Podcast. Na terceira noite mais potente da minha vida [as outras duas são os partos dos meus filhos], subi num palco cheio de verdade e cantei um show lindo com as músicas do Sertão de Fausto Nilo em homenagem aos meus pais.

 

Em casa, eu trabalhei sempre como autônoma, apoiando iniciativas, organizações e negócios a alinharem seus valores ao que o mundo precisava delas. Nestes anos, também aprofundei muito minhas investigações espirituais, percebendo, aos 40 anos, que meu coração estava pronto para ocupar um lugar autoral no mundo. No silêncio, estudei astrologia e budismo, aprendi a meditar e voltei a contemplar.

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Agora inicio um novo ciclo, fora do Ceará e do Brasil, para mais uma missão emocional que vai se tornar meu primeiro livro. Enquanto mais este sonho vai sendo gestado, cuido dos meus e oferto meus dons pro mundo apoiando pessoas e organizações a construírem belezas, processos formativos, redes e memórias significativas por aí.​

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[créditos da foto: Enrico Rocha, dia desses, num banho de mar de lua cheia]

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Site criado por Gabi Valente. Créditos das imagens Flávio Torres, Enrico Rocha, Pietro Baroni, Rafael Valente, Rosana Lima, Rafael David e Gabi Valente.

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